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Sementes Crioulas e as Três Irmãs

  • Foto do escritor: S&T
    S&T
  • 30 de ago. de 2023
  • 3 min de leitura

Atualizado: 19 de abr.


As três irmãs

A união entre Milho, Feijão e Abóbora é ancestral. É conhecida como as “Três Irmãs”, ou Milpa, palavra derivada da língua indígena Nahuatl, da família Uto-Azteca.

Sendo uma técnica agrícola antiga utilizada nas Américas pelos povos nativos, as Três Irmãs representam uma epistemologia pré-colonial de relevância científica para a trajetória da existência humana. Sementes de milho, feijão e abóbora, quando plantadas juntas, maximizam a produtividade de cada uma das três, enriquecem o solo e contribuem robustamente para a nutrição das pessoas. Eles se complementam não apenas em crescimento e desenvolvimento, mas também em valor nutricional.

O milho, em sua busca pelo máximo de luz possível, cresce verticalmente e fornece uma estrutura estável para a escalada do feijão. O feijão, por sua vez, fornece Nitrogênio ao solo, elemento essencial para o crescimento saudável de diversas plantas, inclusive do milho. A abóbora permanece rente ao chão, suas folhas largas protegem o solo e as raízes superficiais do sol direto e previnem o desenvolvimento de plantas espontâneas indesejadas.

Esse trio é famoso até na música popular brasileira. Luiz Gonzaga, um dos maiores compositores sertanistas do Brasil, descreve poeticamente a chegada das chuvas aos campos áridos do sertão pernambucano:

"...Da chegada das chuvas no sertão

Ver a terra rachada amolecendo

A terra, antes pobre, enriquecendo

O milho pro céu apontando

O feijão pelo chão enramando

E depois, pela safra, que alegria…"




A Seeds and Tales criou essa peça onde Milpa é protagonista, homenageada como uma das primeiras criações tecnológicas da agricultura holística.

Sementes crioulas

Uma variedade de sementes crioulas é nativa, livre de manipulações genéticas comerciais e desconhecida pelas tecnologias agroindustriais modernas. Hoje em dia, que as sementes se tornaram mercadorias patenteadas por empresas que desenvolvem sozinhas novas sequências de DNA de culturas, as sementes crioulas e pessoas protetoras são a vanguarda de um movimento que garante a sobrevivência da flora mundial, das suas origens e magnífica diversidade.

Para além do paradigma genético da proliferação vegetal, existe um legado cultural nas sementes crioulas, que desempenha um papel indispensável na sua proteção. Cultivares únicos podem ser passados de geração em geração de uma família, e com eles memorias, ritos e mitos. Como tal, as sementes crioulas são essenciais para a sustentabilidade biológica e cultural. A proliferação de sementes geneticamente modificadas, portanto, frequentemente causa a desertificação tanto da terra como do patrimônio histórico.

As sementes patenteadas pelo complexo agroindustrial têm forte apelo comercial e são plantadas em monoculturas altamente dependentes de agrotóxicos. Ao final de um ciclo monocultural, o que resta é um solo degradado e empobrecido e, desde a década de 1980, o milho crioulo é um exemplo de cultivar que sofre com essa ameaça.



Milho Crioulo

Na Agricultura Sintrópica, sob orientação do agricultor e pesquisador Ernst Götsch, o milho crioulo é utilizado em experimentos que visam melhorar a produção de alimentos e, ao mesmo tempo, recuperar solos degradados e reflorestar terras desmatadas.

No México, o milho não é uma mercadoria alimentar, é um patrimônio. Simboliza uma série de experiências ancestrais que ditam as relações familiares, os legados culinários e uma tecnologia de uso da terra sem precedentes. O milho crioulo é nada menos que o emblema das grandes civilizações que uma vez prosperaram nas terras que hoje chamamos de México, e cujos descendentes continuam a incorporar esse legado.



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Escrito por Mirna Wabi-Sabi

Fotografado por Ricardo Riccio

Idealizado por Trovão Tropical

 
 
 

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