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Domesticada

  • Foto do escritor: S&T
    S&T
  • 19 de abr.
  • 5 min de leitura
Pisum sativum

Ervilha para grãos

Pisum sativum, mais conhecida como ervilha, é uma espécie de planta herbácea que pertence à família das leguminosas. Originária da região do Mediterrâneo, a ervilha é uma cultura antiga que foi domesticada há mais de 10.000 anos. Ela tem sido cultivada e transportada pelo mundo há milênios, em parte porque é rica em nutrientes e potencialmente não perecível. Por ser uma leguminosa, a ervilha desenvolve uma relação simbiótica com bactérias em suas raízes, o que leva à conversão do nitrogênio que está no ar em um recurso para as plantas no solo. Esse processo, denominado fixação de nitrogênio, representa uma transformação vital.


Cicer arietinum

Grão de Bico

A Cicer arietinum, também conhecida como grão-de-bico, tem origem na Ásia Ocidental (ou Oriente Médio), mas é cultivada em mais de 50 países e possui mais de 3 mil variedades. O grão-de-bico é utilizado na culinária de diversas culturas pelo mundo, pois é considerado uma fonte rica de proteína vegetal e possui propriedades nutricionais altamente benéficas para a saúde humana. A região chamada Crescente Fértil, local de origem da Cicer arietinum há mais de 10 mil anos, é considerada um berço da civilização humana. O criador desse termo iniciou uma era de pesquisa arqueológica focada na região em 1919, que questionava a teoria ocidental da época de que a civilização humana nasceu na Europa. Hoje, essa teoria também é examinada de forma crítica, pois alimentou narrativas de que se a Europa não é o berço da civilização, é o pináculo dela. Enquanto definir o que é considerado ‘civilizado’ é um exercício subjetivo, essa região chamada de Crescente Fértil, Mesopotâmia, ou, hoje em dia, Iraque, Síria, Turquia e outros países vizinhos, retém uma história objetivamente excepcional. Em terras férteis, que geram agricultura excedentária, a sociedade pôde florescer culturalmente, e desenvolver estruturas agriculturais e urbanas complexas.


Passiflora ambigua

Maracujá Doce

A família botânica Passiflora, da qual o maracujá faz parte, é composta de mais de 520 espécies, sendo a maioria delas originária da América Tropical. O Brasil possui a maior diversidade genética dessa família de plantas, onde mais de 140 espécies diferentes de maracujá podem ser encontradas e mais de 80 delas são endêmicas desse território. A polinização do maracujá conta com as abelhas do gênero Bombus, e essa simbiose entre os dois organismos demonstram a coevolução dessas espécies. Borboletas também contribuem para a formação genética da família Passiflora, porque ao escolher onde se alimentar e pôr ovos, elas desenvolvem a preferência para o formato de folha da variedade de passiflora mais abundante no local. Dessa forma, a variedade genética mais rara é protegida.


Luffa aegyptiaca

Bucha vegetal

A Luffa aegyptiaca é da mesma família do pepino, melancia e abóbora, chamada Cucurbitaceae. Ela se diferencia dos outros membros porque seu fruto, quando descascado e seco, pode ser usado como bucha vegetal – uma alternativa biodegradável às esponjas de cozinha. Como os outros membros dessa família, a Bucha vegetal é uma trepadeira rústica, que forma frutos grandes. Pelo território brasileiro, ela é presente em muitos quintais rurais, por exercer uma função útil no lar e como fonte de renda. Para praticantes de religiões da diáspora africana, como a Umbanda e o Candomblé, essa bucha é usada em banhos de ervas ritualísticos.


Coffea sp.

Café

A humanidade se relaciona com o café há mais de um milênio. Essa relação começou na região que hoje é conhecida como Etiópia, no Século IX, quando um pastor chamado Kaldi notou que após comerem os frutos vermelhos de um arbusto silvestre, suas cabras ficavam mais ativas e não dormiam à noite. Kaldi, então, colheu e levou esses frutos para um líder religioso e foi nessa espécie de monastério que o café se transformou na bebida mais consumida do mundo. A transformação dessa planta magnífica em bebida foi iniciada por monges e era consumida de forma ritualística. De certa forma, ela até hoje é. O café foi a bebida de devotos em rituais do misticismo islâmico Sufista no Yemen. O kave, ou "vinho das arábias", se popularizou pelo mundo árabe num contexto cultural que proibia o consumo de álcool, mas abraçava o estímulo da cafeína. Com a expansão do comércio árabe e do império otomano, o consumo de café seguiu essas rotas de propagação pelo mundo. Essa era de expansão foi chamada de Renascimento Islâmico ou era de ouro do mundo árabe, e durou mais de meio milênio, entre os Séculos VIII e XV. Durante esse período houve um boom civilizacional e agricultural, onde a literatura, as navegações e tecnologias se desenvolveram sem precedentes ­– estimuladas pelo consumo avido de café. Para assegurar o monopólio desse produto de alta demanda no ocidente, os comerciantes árabes vendiam os grãos de café já torrados, assim evitando seu plantio fora dos domínios árabes. Só em 1616, quase um milênio depois que Kaldi notou a mudança de comportamento em suas cabras, que a primeira muda de café foi contrabandeada do porto de Mokha, no Yemen. Navegadores holandeses levaram uma muda para uma de suas colônias na ilha de Java, hoje parte da Indonésia, onde conseguiram cultivar e criar com sucesso a variedade de café chamada Mocca ou Mocha Java. Por volta de cem anos depois desse contrabando pelos holandeses, a corte francesa acha uma muda de café no jardim botânico de Amsterdam. Uma muda dessa planta é, então, levada até a ilha de Martinica em 1730, onde as primeiras plantações de café francesas são cultivadas e o café começa a ser exportado para a Europa. O início do relacionamento da civilização árabe com o café corresponde com o início da era de ouro do mundo islâmico. Essa era chega ao fim enquanto a semente dessa planta é usada por outros povos na construção de seus próprios impérios.


Oryza sativa

Arroz de sequeiro

O arroz de sequeiro é uma das espécies domesticadas mais antigas do mundo. Na China, entre 10.000 e 15.000 anos atrás, o Vale do rio Yangtze hospedou o arroz asiático ao lado do painço e contribuiu para a expansão da população chinesa em direção a territórios altos e áridos, onde essas plantas foram capazes de se adaptar. Esse “sistema de cultivo duplo” viabilizou não só a expansão e crescimento populacional, mas também a “complexidade social”, onde práticas culturais, espirituais, arquitetônicas e linguísticas foram elaboradas e refinadas. No Brasil, esse arroz crioulo se adaptou ao clima do Norte e Nordeste, e foi absorvido pela cultura culinária da região em pratos típicos como o arroz de leite e o arroz de garimpeiro. Em Santa Catarina, no Sul do Brasil, proteger a diversidade genética desse arroz não só representa uma tradição, mas também a “segurança alimentar de famílias rurais”. O Movimento dos Sem Terra no Brasil, que luta por reforma agrária, é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina. Esse exemplar foi adquirido de um guardião de sementes especializado em genéticas crioulas.


Theobroma cacao

Cacau

Theobroma cacao, conhecida popularmente como cacau, é uma espécie de árvore da família Malvaceae, originária da região tropical da América do Sul. O cacau é amplamente cultivado em vários países de clima tropical úmido, incluindo Brasil, Costa Rica, Colômbia, Gana e Indonésia. Por civilizações indígenas da América Central e México, essa planta foi consumida como uma bebida estimulante, chamada tchocolatl. Na mitologia Asteca, o cacaueiro foi um presente, ou até uma manifestação, da divindade Quetzalcoatl aos seres humanos. Mas é a floresta amazônica que possui os sítios arqueológicos mais antigos indicativos de plantações extensas de cacao, que remontam ao período Holoceno. No Brasil, o cacau é principalmente cultivado nos estados da Bahia, Pará e Espírito Santo, e é uma fonte de renda significativa. Dentro do campo da agricultura regenerativa, o cacau é uma espécie chave, porque que pode ser cultivado na sombra de outras árvores. Isso permite um cultivo integrado a florestas já consolidadas, sem a necessidade de derrubar árvores já existentes para abrir clareiras.

 
 
 

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