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Feijão

  • Foto do escritor: S&T
    S&T
  • 19 de abr.
  • 5 min de leitura
igna unguiculata

Feijão de corda pintadinho

O feijão de corda, ou feijão-fradinho, é uma planta leguminosa anual com alta tolerância a solos áridos e degradados. Graças a essa habilidade, ele prosperou nos sertões semi-áridos Nordestinos. O gênero Vigna possui uma vasta diversidade de cores e formatos, características que nomeiam a variedade do cultivar. Por isso seu título varia de região para região. Originária da África, essa planta foi trazida para o Brasil com início da era colonial, no século XVI. Nesse período, entre 1549 e 1763, Salvador era a capital do Brasil, e vivenciou o comércio escravagista penosamente. A partir dessa cidade, o feijão-fradinho se espalhou para todo o Brasil, e se tornou um ingrediente central nos pratos acarajé e abará, que são ritualisticamente preparados por praticantes de religiões da diáspora africana.


Canavalia gladiata

Feijão espada

Esse feijão é de origem asiática e tem características curiosas. Ele é um cultígeno, ou seja, veio a existir por cultivo humano e não se conhece seu ancestral silvestre. Se ele não é o maior feijão do mundo, está certamente na categoria de um dos maiores, ao chegar a mais de 3 centímetros. Após múltiplas fervuras, esse feijão pode ser consumido seguramente, assim neutralizando substâncias tóxicas existentes nele in natura. Seu sabor neutro e altas quantidades de amido lembram o sabor da batata. Na Coreia, o Canavalia gladiata é usado de forma medicinal, e seu extrato pode ser visto como ingrediente em sabão, visando a saúde da pele.


Phaseolus vulgaris [Mouro]

Feijão Mouro

Essa variedade crioula de feijão foi adquirida de um colecionador de sementes e trocada com um guardião de genéticas da cidade de Baependi, em Minas Gerais. Feijões, assim como milhos, podem possuir centenas de variedades genéticas graças ao processo de polinização cruzada. A polinização cruzada é vantajosa porque essa variedade genética proporciona a adaptabilidade da espécie, e dessa forma, sua sobrevivência. Para Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), esse cruzamento natural é visto como ‘contaminação’, e é ativamente prevenido.


Dolichos lablab [Lablab purpureus]

Feijão Mangalô

Esse feijão é de origem Indiana, e foi trazido ao Brasil por populações escravizadas durante o período colonial. Ele é considerado uma PANC (planta alimentícia não convencional). Essa espécie se adaptou bem ao clima do nordeste brasileiro, por ser mais resistente à seca do que o feijão comum (Phaseolus vulgaris). Portanto, ele foi rapidamente absorvido pela cultura culinária da região. No Quênia, esse feijão é conhecido como njahe ou njahi, e por pesquisadores, ele é frequentemente descrito como “subutilizado”. O seu perfil nutricional robusto e sua capacidade de melhorar a qualidade do solo, minimizar as ervas daninhas e de se reidratar, levantam a questão de por que essa cultura não é uma convenção alimentar e agrícola pelo mundo, como é no Quênia. A resposta a essa questão pode residir na economia do colonialismo britânico, que forçou suas colônias a produzirem alimentos tendo em mente as preferências de consumo europeias, em detrimento das suas próprias. Hoje, diz-se que o Njahi é a variedade de feijão mais cara do Quênia.


Phaseolus lunatus [Lobisomem]

Fava orelha de lobisomem

O Phaseolus lunatus é historicamente encontrado na América Central e do Sul. Dois conjuntos genéticos de feijão cultivado apontam para eventos de domesticação independentes. O feijão mesoamericano está distribuído nas planícies neotropicais, enquanto o outro é encontrado nos Andes ocidentais. No Brasil, existem cerca de 200 espécies de Phaseolus lunatus, indicando uma coleção bastante diversificada, uma delas sendo a Fava Orelha de Lobisomem. Seu nome vem da criatura folclórica cuja pelagem é preta e branca. A lenda do lobisomem tem origem na Grécia e foi trazida para o Brasil com os portugueses. O simbolismo da dicotomia entre o bem e o mal, a sombra e a luz, presente no folclore, está impresso nessa semente.


Phaseolus lunatus [Lima]

Fava rajada olho de cabra

O Phaseolus lunatus é historicamente encontrado na América Central e do Sul. Dois conjuntos genéticos de feijão cultivado apontam para eventos de domesticação independentes. O feijão mesoamericano está distribuído nas planícies neotropicais, enquanto o outro é encontrado nos Andes ocidentais. Seu nome em inglês (Lima bean) vem dos rótulos das caixas – “Lima, Peru” – quando eram exportadas para a Europa durante a colonização. Realmente, os Incas foram pioneiros na domesticação de plantas e na agricultura. Mas o ‘Lima bean’ foi influente na cultura Moche pré-Inca, onde se acredita que essas favas são “elementos sagrados que transportam mensagens a serem decifradas” por líderes espirituais. Essa semente foi adquirida de um guardião de sementes chamado Thiago e doada ao projeto de soberania alimentar "Horta na favela" na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro. Com a aparência de um olho de cabra, ela é uma variedade de fava comestível.


Vicia faba

Fava nacional vermelha

A Vicia faba, conhecida como fava, é uma leguminosa, portanto, ela é uma planta que se adapta bem a solos pouco férteis. Não é o caso com essa espécie que quanto maior a semente, mais rendimento na produção. São as sementes menores que produzem mais vagens. Sua domesticação é tão antiga, que pesquisar suas origens pode ser crucial para entender o ponto em que a humanidade saltou do processo de coleta de alimentos para a produção de alimentos. Estudos identificam sua origem no leste Mediterrâneo.


Mucuna pruriens

Mucuna Preta

A Mucuna preta é uma leguminosa trepadeira. Por ser uma leguminosa, esse feijão desenvolve uma relação simbiótica com bactérias em suas raízes, o que leva à conversão do nitrogênio que está no ar em um recurso para as plantas no solo. Esse processo, denominado fixação de nitrogênio, representa uma transformação vital. Por isso, ela pode ser usada para recuperar solos degradados e é empregada em cultivos agroecológicos. As folhas dessa planta e o seu extrato são utilizados há muito tempo nas comunidades tradicionais da África Ocidental como antídoto para picadas de cobra. Já na Índia, a tradição Ayurveda atribui a Mucuna pruriens ao tratamento da doença de Parkinson.


Canavalia ensiformis

Feijão-de-porco

O feijão-de-porco é uma espécie de fava, da família Fabaceae, nativa da América Central e do Sul. Quando plantado, ele tem a habilidade de nutrir o solo, aprimorando as condições do chão para que outras espécies se desenvolvam. Além de ser incrivelmente resistente a solos degradados e ágil em crescimento, ele pode ser consumido por humanos. Porém, seu período de preparo é bem mais longo do que o de um feijão comum, pois toxinas presentes nele podem causar efeitos semelhantes ao do álcool ou da cannabis, e possui fatores “antinutricionais”. Por isso, o uso mais comum dessa fava é como adubo verde, nos nutrindo de forma indireta, através da terra.


Vigna unguiculata [Caupi]

Feijão-caupi

O feijão de corda ou feijão-caupi é uma leguminosa anual com alta tolerância a solos áridos e degradados. Graças a essa habilidade, ele prosperou nos sertões semi-áridos Nordestinos. O gênero Vigna possui uma vasta diversidade de cores e formatos, características que nomeiam a variedade do cultivar. Por isso seu título varia de região para região. Originária da África, essa planta foi trazida para o Brasil com início da era colonial, no século XVI. Além de sua magnitude de benefícios para a saúde, esse feijão é o ingrediente principal do acarajé, um prato amplamente consumido no estado da Bahia, no nordeste brasileiro. Esse prato é preparado ritualisticamente como uma oferenda à divindade Iansã, uma orixá da religião africana diaspórica do Candomblé.


Phaseolus lunatus

Feijão Olho de Tigre

Há centenas de variedades de feijão e fava, mas uma fração minúscula delas faz parte do dia-a-dia de populações urbanas. Esse feijão olho de tigre é uma variedade rara, trocada durante uma vivência agroecológica no sertão do taquari em Paraty-RJ. Sua coloração atípica em tons de vermelho e preto se assemelha ao olho de um felino. Uma semente crioula como esta é nativa, livre de manipulações genéticas comerciais e desconhecida pelas tecnologias agroindustriais modernas.

 
 
 

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